“Coringa” é um Demócrito que ri frente ao absurdo

Joaquin Phoenix tem atuação irretocável em um filme que humaniza o anti-herói


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Joaquin Phoenix tem atuação irretocável em um filme que humaniza o anti-herói

Outro dia estava assistindo a um Café Filosófico apresentado por Márcia Tiburi no SESC São Paulo. No meio da conversa, Márcia cita dois filósofos pré-socráticos: Heráclito e Demócrito. Enquanto o primeiro era conhecido como “o filósofo que chorava”, o segundo era conhecido como “o filósofo que ria”. Mas Demócrito ria pelo mesmo motivo que Heráclito chorava, pois quando a vida se encontra em um caos apocalíptico, não sobra nada a não ser uma profunda risada. Esse é o absurdo encontrado em “Coringa”, dirigido por Todd Phillips.

Esqueça os filmes de super heróis e vilões com suas cenas de ação, euforia e lições finais. Em “Coringa” nós estamos na vida real. Aqui, o atmosfera é escura, densa e violenta. Somos convidados a acompanhar a história desde o início de Coringa, quando Batman ainda era apenas uma criança hiperprotegida e Gotham City já era o caos que já conhecemos, muito parecido com as grandes cidades de hoje em dia.

Arthur Fleck(seu nome de batismo), é um homem que trabalha como palhaço e sonha em ser comediante. Vivendo com sua mãe em um prédio antigo de Gotham, Arthur encara diferentes barreiras na sua busca pela estima: seus problemas psicológicos, a falta de oportunidades, a desigualdade social, a negligência vinda do poder público e uma sociedade que não está nem um pouco preocupada em ser simpática. Em um ato não premeditado, acaba se tornando um símbolo de protesto e se deslumbra após, pela primeira vez, perceber a sua própria existência.

O surgimento do vilão, mesmo cometendo crimes violentos, ganha o apoio de um povo que já não suporta a submissão. Todo o contexto é tão atual que a única coisa que liga o filme ao universo dos heróis e vilões, é pelo protagonista ser Coringa. Ele poderia ser qualquer outra pessoa, inclusive nós mesmos. Isso faz com que surja uma empatia pelo vilão, pois seus atos parecem ser “justificáveis”. Na verdade torcemos por ele do início ao fim.

Com duração de duas horas, a película não nos deixa piscar e ao seu final, sentimos que valeu a pena. “Coringa” é um ato importante que leva os filmes do gênero para outros públicos que preferem assistir ao retrato da vida real. Aliás, até vilões têm histórias.

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