“Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios” é leitura fácil para os apaixonados

Marçal Aquino serve uma obra simples e afetuosa que faz jus à popularidade que conseguiu conquistar na última década


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Marçal Aquino serve uma obra simples e afetuosa que faz jus à popularidade que conseguiu conquistar na última década

Toda a história de “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios” é narrada por Cauby, um fotógrafo paulista que se mudou para o interior do Pará a trabalho e que ali ficou por mais tempo do que planejava. Nosso protagonista surge em uma pensão barata naquela região conhecida pelo minério de ferro, relembrando o passo a passo que o fez chegar até ali.

Cauby conhece o elemento disruptivo da sua pacata vida enquanto fotógrafo freelancer quando, ao ir a uma loja revelar algumas fotos, encontra Lavínia, uma mulher intrigante e que também compartilha da paixão pela fotografia. É uma fascinação automática e recíproca que começa na amizade, mas não resiste à tensão ao passar do tempo e ambos acabam se tornando amantes – é que Lavínia já é casada com Ernani, o pastor da cidade. Essa relação escondida dos dois se apresenta perigosa e é o principal objetivo de exploração da obra.

Não há do que se discutir sobre a qualidade de escrita de Marçal Aquino. Uma das características que deve ser destacada é a humanização dos personagens, fugindo das histórias maniqueístas em que existem mocinhos e vilões. Aqui todos têm várias qualidades, e na mesma proporção, vários defeitos. Caso de Chang, simpático fotógrafo envolvido em um escândalo de pedofilia; e Viktor Laurence, jornalista discreto e amistoso, que arquiteta no seu interior uma vingança silenciosa.

É necessário dizer então que com Cauby e Lavínia não é diferente. Por mais que a obra seja conhecida pelo amor imparável dos dois, vale lembrar que Lavínia está traindo o seu marido Ernani, um homem incorruptível e generoso que a tirou das drogas e da prostituição, a dando uma vida digna; e Cauby, não menos errado sendo o amante da esposa adúltera, não tendo nenhum resquício de empatia pelo marido que está sendo traído.

Lavínia possui uma personalidade dupla, sendo sua forma doce tendo o seu mesmo nome e sua forma voraz batizada por Cauby com o nome de Shirley. Existe aqui outro ponto que foge da narrativa de que os dois foram feitos um para o outro, quando Lavínia apresenta um distúrbio de personalidade sendo uma delas insaciável e, se ela não se contenta apenas com Ernani, por que se contentaria apenas com Cauby, se um dia abandonasse seu casamento para se juntar a ele?

O final da história não surpreende pela tragédia, essa já indicada na orelha do livro, mas ainda assim é capaz de quebrar as pernas do leitor. Novamente, o que torna a obra marcante não é o amor inconcebível de Cauby e Lavínia, e sim a série de acertos e erros de todos os personagens.

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