“A Brutal Game” é como mergulhar no niilismo e depois colocar a cabeça para fora

Filme de Jean-Claude Brisseau se mantém como uma bela obra a ser assistida


Avatar de Hernandes Matias Junior

Mesmo perdendo força no final, filme de Jean-Claude Brisseau se mantém como uma bela obra a ser assistida

A citação de Fiódor Dostoiévski na primeira cena de “A Brutal Game”(1983) cria a expectativa de que o que está por vir é um filme denso. De fato, ele consegue atingir certa profundidade, principalmente pelo perfil reflexivo dos seus personagens, suas referências e aspirações sobre si mesmo e sobre o espaço físico ao redor.

O filme narra duas histórias em paralelo que se entrelaçam. A primeira é do cientista Tessier, que após ter sua casa invadida e vandalizada por crianças, arquiteta um plano para assassiná-las uma a uma. A segunda é a história de Tessier com Isabelle, sua filha cadeirante que após a morte da mãe, vai morar com ele, configurando uma relação conflituosa.

As duas histórias possuem um espaço de tempo desbalanceado, sendo a história de Tessier e de seu plano de assassinato ofuscada pela forte personalidade de Isabelle e em sua narrativa, sua raiva por ser uma cadeirante, o desprezo pelo pai, sua total desesperança acerca de tudo e de todos. É definitivamente uma ótima personagem.

Isabelle é tão envolvente que o espectador esquece que nesse filme também existe um protagonista assassinando crianças. Em suas aulas com a governanta Annie, Isabelle recita poemas e, direcionada pela sua tutora, vai interpretando-os, aprofundando na escrita, decifrando os afetos do autor ao escrever aquela obra.

Toda essa desesperança de Isabelle sobre a vida é interrompida quando ela conhece Pascal, o irmão de Annie. A paixão parece trazer sentido a existência de uma forma que o afeto consegue superar o individualismo de Isabelle, estando essa agora provando do sentimento do gostar, do cuidar, e do sentir ciúmes do outro.

Pascal parece corresponder Isabelle, e os dois protagonizam lindas cenas no cenário isolado situado na França. Destaque para Pascal tirando a roupa para nadar e Isabelle fazendo o mesmo para acompanhá-lo. Os dois se banhando no lago parece fazer com que Isabelle acredite que tudo é possível.

Mesmo perdendo força no final, com um encerramento de ambas as histórias não muito satisfatório, a obra de Brisseau se mostra essencial para aqueles que possuem vontade de se aprofundar no sentido da existência, ou na falta dele.

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