Rosa Montero quer se expressar sem se expor em “A ridícula ideia de nunca mais te ver”

Livro da escritora espanhola conta uma história onde a morte é pautada de uma forma distante da tragédia


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Livro da escritora espanhola entrelaça a sua história com a de Marie Curie, onde a morte é pautada de uma forma distante da tragédia

Talvez eu tenha ido ler “A ridícula ideia de nunca mais te ver” com tanta vontade de encontrar uma história triste, daquelas que você fica pensando sobre enquanto toma banho com a luz apagada, que acabei me frustrando. Acredito que seja pelo título, incrível diga-se de passagem. No entanto, no livro Rosa Montero vai por outro caminho, decifrando a morte com leveza.

A obra é demasiado estranha para os que estão acostumados com gêneros mais engessados. Aqui, Montero conta a vida de Marie Curie, genial cientista polonesa, e da perda precoce de seu marido Pierre Curie, enquanto entrelaça nessa biografia a sua própria história, de quando perdeu o seu companheiro Pablo Lizcano.

“A verdadeira dor é indizível. Se você consegue falar a respeitos das suas angústias, está com sorte: significa que não é nada tão importante”, diz a autora em um dos poucos trechos dramáticos do livro. Rosa Montero acaba por realmente entregar um trabalho biográfico de Madame Curie, desde sua infância na Polônia, até sua consagração pela descoberta do rádio, passando por suas dificuldades de ser uma mulher em uma época muito mais machista do que os dias atuais.

Embora utilize a história de Curie para contar a sua, existe um enorme desbalanceamento na obra. A história da cientista ocupa quase todas as páginas, e hora ou outra ela fala um pouco sobre si. O próprio amigo da autora, que leu o livro antes de ser publicado, diz que existe muito de Marie Curie e Pierre Curie, um pouco de Rosa Montero, e nada sobre Pablo Lizcano.

De fato, mesmo quem leu o livro inteiro de forma minuciosa, termina sem saber quem foi Pablo Lizcano. Não existem parágrafos o descrevendo, para que o leitor conheça como era sua personalidade, e do que a autora sentirá falta. Rosa Montero até conta, de forma confusa, que esse “não dizer”, já é dizer tudo, e que o silêncio é a melhor forma de representar Pablo. Parece muito que a autora escreveu as partes de Marie Curie para o público, e as partes sobre si, para si mesmo.

Ela também confessa que tem muita dificuldade em se expor. “Sou um balão de ar quente balançando a poucos palmos do chão com o cesto ainda preso à terra por uma corda”. Rosa Montero reconhece que no livro tem pouco de si, e que ela prefere contar as histórias dos outros, enquanto interiormente sente que está contando a sua própria.

“A ridícula história de nunca mais te ver” pode desapontar quem quer conhecer Rosa Montero e seu companheiro Pablo Lizcano. Vale a pena para quem gosta de biografias escritas de uma forma menos engessada, com comentários no corpo do texto.

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