Apesar de possuir quase duzentas páginas, livro da escritora indiana-canadense caberia em três guardanapos
Fala-se muito sobre o “lugar de crítica”, termo que se refere à legitimidade de uma resenha, no sentido de que só uma pessoa com as mesmas vivências da autora está apta à critica-la. Isso poderia ser usado para invalidar esse meu texto sobre “Meu Corpo Minha Casa”, de Rupi Kaur, uma vez que a autora tem uma “abordagem feminista”. Não acredito nessa bobagem e pelo menos nesse espaço me sinto livre para falar sobre o que quiser. Se é legítimo ou não, fica a critério de quem lê.
A obra em questão é dividida em quatro partes: mente, coração, repouso e despertar. Rupi Kaur chove no molhado em todas elas. Até mesmo quando a autora tenta abordar assuntos sérios como saúde mental e violência sexual, ela se diminui a algumas poucas frases que hora ou outra encontram uma rima fajuta, que poderia facilmente ser encontrada no Tumblr em 2011.
Rupi Kaur minimiza tudo a frases curtas e clichês. Enquanto a depressão pode ser sentida como uma mão feminina cortando o seu rosto com uma gilete, os medos da autora são “eu quero viver mas tenho medo de não corresponder às expectativas”. Sobre inseguranças amorosas, ela aconselha “se alguém não tem coração, não adianta você sair por aí oferecendo o seu”. Quando ela aborda o mundo capitalista, solta que “cada um pode trabalhar no seu ritmo e ser bem-sucedido mesmo assim”.
Todas as respostas para os problemas parecem estar dentro de nós. No único momento que o livro aborda um fato externo, Rupi conta uma pequena passagem sobre o seu pai que trabalha como caminhoneiro em um mundo desigual e que ignora a existência dos menos favorecidos. Ela também faz isso de forma clichê e superficial.
A autora ficou conhecida na Internet por ter seus “poemas” compartilhados em várias redes sociais. Ela inclusive recebeu o adjetivo “instapoet”, ou, em tradução livre, poeta de Instagram. Parece muito que Rupi Kaur está presa a esse formato que a consagrou e ao mesmo tempo vivendo uma crise criativa. Em seus três livros publicados ela aborda os mesmos temas e, inevitavelmente, perde força cada vez que a autora tenta revisitar seus antigos afetos para “escrever”.
Talvez um contrato esteja a obrigando a se esforçar para escrever, mesmo que a inspiração não venha. Tenho minhas dúvidas se a autora está feliz com o trabalho que está entregando, ou se preferiria descansar um pouco ou partir para um novo formato de escrita, que permita se expressar melhor e ter espaço para se aprofundar.
O que Rupi Kaur produz ainda não tem nome. Para um texto ser considerado poesia, é preciso mais do que frases como gancho, que encontram algumas rimas fáceis. Rupi ainda está perdida tentando encontrar a poeta que ela não é.

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