Livro do escritor português possui a sabedoria infantil de uma criança imaculada frente às dores do mundo
É fácil perceber que “O paraíso são os outros” não é um livro que foi escrito com planejamento. As sentenças curtas mostram que o autor queria se expressar e simplesmente começou a escrever para tirar do peito aquilo que lhe era urgente. A obra nasce como uma espécie de braço de seu outro livro, “A desumanização”, onde Valter Hugo subverte a famosa sentença de Jean-Paul Sartre, que diz que o inferno são os outros.
Incluído na categoria infantil mas tranquilamente servindo também a adultos, o livro é composto por diversos pensamentos a cerca do amor, entre “homem e mulher, homem e homem, mulher e mulher”, e também entre familiares, amigos e animais. Muitos pensamentos muito provavelmente vão soar óbvios para um adulto que os lê, mas a obra é narrada por uma menina de menos de dez anos, otimista quanto às relações, sem conhecer as dores que amar também provoca.
Essa ignorância da narradora é o que torna o livro singelo, delicado e belo. O amor aqui ganha uma abordagem positivista e animadora, com a narradora dizendo sem nenhum problema de que quer sim amar e ser amada, como os casais que a emocionam.
Em uma época em que parece estar acontecendo um movimento pró-insensíveis, onde não se pode demonstrar, se expor e querer o outro para além do sexo, “O paraíso são os outros” é como uma pausa em um campo de batalha.
Ao final do livro, Valter Hugo Mãe toma a palavra para dizer o que o motivou a escrever o livro. Uma das passagens mais marcantes, é sua reflexão sobre a posição do homem dentro de uma sociedade, e o que ela representa para sua existência. O que seria um homem sozinho, isolado de uma sociedade, se não apenas um animal?

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