“Shame” revela uma compulsão sexual capaz de arrastar a carne até o abismo

Filme de Steve MacQueen é uma obra completa com potencial de se tornar um clássico contemporâneo


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Brendon é um executivo na casa dos 30 que convive com um vício no sexo que o faz existir apenas com o objetivo de chegar ao orgasmo. Logo no começo do filme, Brendon acaba de transar com uma garota de programa, pega o metrô para ir ao trabalho e sente uma atração sexual animal por uma mulher que também está no trem, chega ao escritório e rapidamente precisa se masturbar no banheiro. Essa compulsão vai repetir-se muitas vezes durante a história e colocar em conflito a relação que Brendon possui com seu chefe David, com sua irmã Sissy e com seus próprios afetos.

Em um momento em que o sexo em excesso atinge um patamar quase que de saúde, onde exibições da performance sexual acabam sendo consideradas espetáculos, e o gozo uma representação do transcendental em uma sociedade secularizada, “Shame” chega para mostrar qual a verdadeira realidade em ser carregado por uma luxúria maldita.

O protagonista acaba traçando uma jornada da busca sexual que vai desde se masturbar para camgirls após o jantar, até contratar garotas de programa. Acontece que essa busca, mesmo quando é atingido o seu objetivo, parece não trazer o prazer esperado para Brendon, ou parece durar muito pouco o êxtase. E logo que chega ao orgasmo, rapidamente seu corpo se regenera em busca de mais, em outra transa, com outra parceira.

Distante da família e com poucos amigos, a rotina de Brendon é interrompida com a chegada de sua irmã Sissy, que vem para morar com ele no mesmo apartamento. Brendon sente um desprezo por Sissy, mas de uma forma muito maior do que aquela irritabilidade por ter uma visita sem data para ir embora. A relação entre os dois acaba mostrando uma dificuldade de Brendon em se envolver com as pessoas, em se deixar penetrar e se aprofundar em uma relação.

Marianne, uma colega de trabalho com quem Brendon acaba se envolvendo, percebe a mesma coisa quando ele diz que não acredita em casamento e que seu relacionamento mais longo durou quatro meses. Mais tarde, quando os dois vão transar, Brendon acaba não conseguindo, fica frustrado e pede para que a parceira se retire. Minutos depois de Marianne ir embora, Brendon liga para uma garota de programa, ela chega e eles transam com muita competência.

A transa que não aconteceu com Marianne é uma consequência do afeto que ela fez com que Brendon ficasse exposto. A colega de trabalho tinha intenções para além do carnal, enquanto Brendon está acostumado com uma transa impessoal, escondida, e muitas vezes paga, onde depois de gozar, é apenas pegar o casaco e ir embora.

Brendon até se coloca em risco dando em cima de uma mulher acompanhada em um bar, e, como não conseguiu leva-la para cama, segue para um bar gay onde recebe sexo oral de outro homem – mesmo que o protagonista seja heterossexual.

“Shame” acaba se tornando uma obra completa ao retratar de forma competente um homem sendo arrastado ao abismo pelo vício da carne. É um filme que o tempo talvez o coroará como um clássico – merecidamente.

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