Filme do diretor turco Alphan Eşeli possui menos de 60 minutos, mas o necessário para entregar uma obra trágica
Viúva e mãe de apenas um filho já adulto, Müjde é uma mulher de meia idade que vive sozinha em uma mansão em Istanbul. Impossibilitada de conseguir cuidar da enorme casa, planeja então sua mudança para um apartamento menor, mais fácil de gerir. Com seu filho estando ocupado com o trabalho, Müjde resolve ir a um viaduto onde se encontram dezenas de refugiados sírios e contrata três homens para a ajudar na mudança, sendo um deles o enigmático Sayydi, o único integrante do grupo que fala inglês e que será ponte de comunicação entre a viúva e os ajudantes.
Instantaneamente surge uma atração de Müjde por Sayydi. Isso talvez seja quase um clichê, ou algo que todos já esperavam, mas é belo demais ver despertar a paixão em uma mulher que foi casada durante anos, e que nem imaginava que poderia sentir esse afeto novamente. O sentimento de Müjde parece não ser apenas o carnal, mas se manifesta também pelo cuidado, pela atenção e pela generosidade com Sayydi.
Mesmo que a comunicação entre os dois não seja perfeita, uma vez que o inglês não é o idioma materno dos dois, portanto, gerando algumas limitações, a química do casal se estabelece muito pelo discurso. A afetividade aflora e Sayydi corresponde ao sentimento de Müjde.
Neste ponto, o tempo da obra é parecido com as peças de teatro grego, e a velocidade dos acontecimentos lembram, por exemplo, “Medeia”, de Eurípedes. Logo em sequência, Müjde e Sayydi vão morar juntos no novo apartamento. A rapidez dos fatos não atrapalha em nada a sua mensagem, e a fotografia e os sons do filme fazem com que não exista um estranhamento sobre essa característica da obra. Muito pelo contrário, parece muito que essa agilidade faz com que o telespectador fique mais interessado ainda no desenrolar da trama.
Em um café da tarde, ao saberem que Müjde levou sírios para sua casa para ajudarem com a mudança, suas amigas começam a manifestar a mais pura xenofobia e falta de compaixão com os refugiados, ao passo que a protagonista resiste e consegue defender a sua ética. A cena é de uma xenofobia tão universalizada que Müjde, após suas ações e falas desde o início do filme, confirma a personalidade generosa da personagem, indo contra a conduta xenofóbica de quem a cerca.
Sayydi anuncia a Müjde que retornará à Síria para buscar o seu filho que estava perdido até então após um bombardeio russo. Müjde se mostra desolada com a iminente viagem do namorado, e logo se coloca à disposição para ir junto a ele. Sayydi recusa, pois ele está indo a uma região em guerra, e não quer colocar a vida dela em risco. Müjde oferece ajuda financeira, mas Sayydi também recusa. Diante disso, existe o desenrolar da tragédia.
“Müjde” é uma grata e breve surpresa. O filme de pouco mais de 40 minutos consegue criar uma atmosfera que nos faz não querer deixar de assistir, e se lamentar por não poder degustar mais a vida daqueles personagens.

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