Filme do polonês Magnus von Horn aborda uma solidão contemporânea que se mantém mesmo diante de uma grande plateia
Na primeira cena de “Sweat” vemos Sylwia Zajac, uma grande influencer polonesa, em ação ministrando sua aula de exercícios para uma grande audiência em um shopping que parou para acompanhar a musa fitness. Após o término da aula, Sylwia se sente satisfeita com seu trabalho, mas apesar de possuir centenas de milhares de seguidores, a protagonista enfrenta uma solidão em sua vida pessoal que a está deteriorando. O filme acompanha três dias da vida de Sylwia, narra sua relação consigo mesma, com amigos e com a sua família.
Quando não está no papel de influencer, é nítida solidão de Sylwia. A protagonista aparece sozinha em todas as cenas e não possui sequer um contato íntimo com alguém pelo celular. Trata-se de uma pessoa completamente só em sua existência. É muito fácil interpretar a vida da protagonista como sendo um retrato do velho cliché de que pessoas criam personagens na Internet, muito diferentes do que elas são na vida real. Não é o caso de Sylvia.
A protagonista não é diferente daquela que aparece nos stories do Instagram. Sylwia de fato sente prazer na ginástica, se exercita todos os dias, prefere subir de escada a usar o elevador, e se preocupa com o meio ambiente reduzindo o seu consumo de plástico. Aqui o diretor Magnus von Horn consegue humanizar a sua personagem, a colocando como uma pessoa carismática, verdadeira e sensível.
Vigiada em sua própria casa
Ao passear com seu cachorro, Sylwia percebe que está sendo vigiada por um homem dentro de um carro estacionado na frente de seu prédio. Aproximando-se do veículo, a protagonista vê que o homem está se masturbando enquanto a observa. Sua reação é enfurecida no primeiro momento, e o acontecimento parece deixar Sylwia mais abalada e se sentindo vulnerável. Ainda assim, em outros momentos de interação entre a protagonista e esse homem sem identificação, ela sente que ele sofre da mesma solidão pela qual ela está passando.
Sem casa para voltar
Sylwia aparece na casa de sua mãe, que está fazendo aniversário e que organizou um almoço para comemorar, vestida de uma forma mais elegante do que os outros convidados e uma televisão como presente de aniversário que é grande demais para a sala da aniversariante. A fotografia fechada, quase claustrofóbica, mostra que a protagonista já não cabe mais no ambiente daquela família. Outro ponto que chama a atenção é a indiferença com que a mãe trata a filha, e não é evidente onde está o pai de Sylwia e qual foi o papel dele em sua criação. Essas interrogações poderiam explicar mais a subjetividade da protagonista, mas acabam não sendo exploradas pelo diretor.
O simulacro em um pedestal
Durante o almoço com a família, Sylwia apresenta a revista em que ela está na foto de capa, em mais uma tentativa de chamar atenção para si, e um primo, diante da mídia impressa, pergunta à Sylwia se foi utilizado photoshop na fotografia, mesmo estando de frente para a protagonista. Nesse momento existe uma referência à pós-modernidade onde o simulacro passa a ser mais valorizado do que o real, ao ponto dele anular esse segundo.
Uma romântica no fim do mundo
O filme obtém sucesso ao criar uma personagem sensível em Sylwia. Desde a forma com que ela cuida do seu cachorro de estimação, passando por sua paixão pelas músicas do Roxette, até seu story confessional em que aparece chorando e dizendo que se sente sozinha, e que gostaria de ter alguém. Mais tarde, Sylwia será confrontada sobre esse story em uma entrevista para um programa de TV. A protagonista volta a se mostrar uma pessoa verdadeira ao dizer que não se sente envergonhada em demonstrar fragilidade para seus seguidores, e que se isso a torna fraca, que ela sente orgulho da sua fraqueza.
Mesmo emocionada após as perguntas dos entrevistadores, Sylwia ainda consegue dar uma aula de exercícios físicos para os telespectadores, fazendo a manutenção daquilo que parece dar um pouco de sentido para a sua existência.

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