Em “Canção para ninar menino grande”, um homem negro tem a sua história contada pelas mulheres da sua vida

Livro é uma obra sofisticada da escrevivência da escritora mineira Conceição Evaristo


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Embora o protagonista de “Canção para ninar menino grande” seja um homem, ele só ocupa o centro da narrativa por causa das mulheres que as contam. Fio Jasmin, um homem negro, jovem e belíssimo, trabalha como assistente de maquinista e a cada parada que o trem faz ao longo do percurso, desce para explorar a cidade e também para explorar as mulheres daquele local.

É assim quase o livro todo. Mesmo casado e pai de quase uma dezena de filhos com Pérola Maria, Fio Jasmin aproveita as paradas do trem para encantar alguma mulher de cada cidade. Isso acontece, por exemplo, com uma enfermeira “solteirona”, uma jovem que nada pelada no rio, uma virgem de família nobre, uma dona de joalheria, entre outras. As histórias foram se acumulando até chegarem à escrevivência de Conceição Evaristo.

Mas por que esse homem parece viver apenas em busca de procriar e de encantar mulheres? Talvez porque ele foi ensinado que é esse o seu único papel como homem negro.

Durante a história tomamos ciência de um episódio na infância de Fio Jasmin que o marcou: em uma peça na escola, Fio foi impedido de atuar como príncipe, papel, segundo sua professora, mais adequado a um menino branco e loiro.

Esse trauma de quando criança, declaradamente uma rejeição, muitas vezes nos marca e faz com que exista uma compensação quando nos tornamos adultos. Se quando criança Fio Jarmin não conseguiu ser o príncipe, agora adulto ele irá empilhar mulheres, as dilacerar, fazê-las implorarem pela sua companhia e pelo seu gozo.

E cabe a essas mulheres, solitárias e negras, esperá-lo, acariciá-lo e serem punidas pela rejeição desse homem, mesmo que elas não possuam culpa alguma.

Tão acostumado a colocar seu corpo como objeto de prazer, Fio Jasmin tem uma surpresa ao encontrar uma mulher lésbica, que o oferece não o gozo, mas uma amizade e um aconchego que ele até então não conhecia.

“Canção para ninar menino grande” é uma sofisticada obra sobre a solidão e a falta de afeto de homens e mulheres negros que facilmente poderia ter uma continuação nas mãos de Conceição Evaristo.

“Canção para ninar menino grande”, Conceição Evaristo:

Avaliação: 4 de 5.

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