Quando li a citação “inventar um sentido para a vida não é tarefa para o corpo biológico” na crítica que a Folha fez do livro “A Cabeça do Pai”, primeiro romance da escritora Denise Sant’Anna, corri para comprá-lo. Eu, que me considero um homem secular, achei a frase tão boa que não via a hora de ler a obra completa.
Neste livro, um senhor, exausto por cuidar de sua esposa acometida pelo Alzheimer, sofre um acidente vascular cerebral e é internado em um hospital. A história é narrada pela filha desse casal, que se desdobra para dar conta da família que ela própria gerou, e o fim da vida dos seus pais.
O livro é muito bem escrito e é capaz de nos fazer lembrar da finitude da vida e como somos escravos de nossos corpos, vítimas de suas patologias, impotentes de frente com aquilo que os remete.
Os capítulos da obra possuem nomes em alusão ao corpo, como “Cabeça”, “Ossos”, “Dentes”, “Olhos”, “Órgãos” e “Sexo”. Infelizmente achei uma estrutura desnecessária e forçada da autora, pois os títulos desses capítulos não são tão relacionados assim ao seu conteúdo.
Assim como também achei forçado o artifício utilizado pela autora para adicionar novos personagens na história. Basicamente, o pai hospitalizado invocava o novo personagem e a filha contava quem era aquele personagem. Um exemplo: “Quando perguntei ao pai se ele queria os óculos para ver melhor as fotografias que eu lhe mostrava, ele me perguntou sobre Lavínia. Ela foi nossa vizinha…”
Mas apesar desses pontos cansativos, acredito que “A Cabeça do Pai” é um livro bom, pois me fez pensar que viver não é para sempre; que envelhecer é um caminhar para a morte; e como uma patologia não adoece apenas o indivíduo que a possui.
“A Cabeça do Pai”, Denise Sant’Anna:
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