“O filósofo no porta-luvas”, primeiro romance do professor de filosofia Juliano Garcia Pessanha, tem exatamente 96 páginas, mas na experiência da leitura parece ter muito mais. E se tivesse mais algumas dezenas de páginas eu provavelmente teria abandonado a obra pela metade.
Nessa literatura de formação tardia, Frederico, um homem na casa dos 40, é um apaixonado pela filosofia alemã de nomes como Martin Heidegger, Peter Sloterdijk e Wilhelm Dilthey. Apesar de leitor assíduo de filósofos de corrente fenomenológica, Frederico acredita numa metafísica encarnada em um guru que vê o protagonista em uma situação muito favorável e confortável em um mundo futuro, sem que esse protagonista tenha que fazer algo para conseguir essa qualidade de vida.
As previsões do guru, também chamado de holy man no livro, traz tranquilidade para Frederico seguir com sua vida atual: sem emprego fixo, sem carreira acadêmica, vivendo com a mesada da mãe e passando seu tempo lendo livros de filosofia sozinho ou em grupos de estudo. Frederico vive praticamente recluso, negando um mundo no qual ele vive, como um niilista que seria alvo de seu xará no século XIX, o também filósofo alemão Friedrich Nietzsche.
Não é uma surpresa para o leitor quando a vida confortável de Frederico chega ao fim e ele precisa agora sair do mundo teórico e ir para esse mundo prático que vivemos, dominado pelo capitalismo tardio. O protagonista agora repensa as escolhas que fez na vida e se questiona se não jogou sua existência fora no tempo que passou dedicado à filosofia. Tudo isso enquanto dirige um taxi (que posteriormente se transforma em um uber) para pagar as contas.
É uma história que poderia ser interessante, mas que naufragou nas decisões tomadas por Juliano Garcia Pessanha. “O filósofo no porta-luvas” tem uma escrita difícil, técnica, repetitiva e que parece ter sido destinada apenas para os pares do autor, excluindo a possibilidade da obra ser lida por alguém que não tem tanto repertório filosófico. São tantos os momentos em que o autor repete termos técnicos da filosofia que confesso que cheguei a revirar os olhos com pouca paciência.
A obra é complicada até para mim que sou estudante de filosofia, e visto que o livro foi publicado pela Todavia, Juliano perdeu a oportunidade de atingir um público que não está em sua sala de aula. A escrita poderia ser mais acessível para o leitor, para atraí-lo e levá-lo a uma leitura mais fluida. Essa forma de escrever quase que excluindo quem vai ler parece uma forma de mascarar a incapacidade do autor de tornar a história mais profunda.
Durante a leitura, inclusive, o narrador por várias vezes rouba todas as atenções para si e ofusca até o protagonista Frederico, fazendo com que o livro pareça muito um eterno monólogo, quase um paper acadêmico.
“O filósofo no porta-luvas” é vendido como um híbrido entre romance e ensaio, alternando entre melancolia e humor, mas a obra falha em tudo. A única melancolia sentida é pela leitura em si desse livro e o único humor foi rir das decisões tomadas pelo autor.
“O filósofo no porta-luvas”, Juliano Garcia Pessanha:
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