“Bem-vindos a bordo” mostra uma angústia por trás do escapismo

Emmanuel Marre e Julie Lecoustre unem forças para criar história melancólica com uma magnética Adèle Exarchopoulos como protagonista


Avatar de Hernandes Matias Junior

Há quase três anos, Cassandre trabalha como comissária de bordo em uma empresa aérea de baixo custo. Motivada pelo seu desejo de liberdade, a protagonista escolheu essa carreira para poder viajar, conhecer lugares diferentes e encontrar pessoas novas. Apesar de estar fazendo o que diz gostar, Cassandre está sempre muito cansada, deprimida e melancólica. Vemos ao longo da história que a escolha por esse trabalho é como uma tentativa de fuga e quando Cassandre é afastada do emprego ela precisa lidar com o passado que ela deixou no chão quando levantou voo.

Todos os dias Cassandre está em um país diferente, sai com um grupo de conhecidos diferentes e acorda de manhã com algum cara diferente que conheceu em um aplicativo e com quem fez sexo casual na noite anterior. A vida da protagonista não tem continuidade, encarnando um fetiche pela liberdade e sua consequente solidão encontrada no mundo contemporâneo.

Estar voando é como um escapismo para Cassandre, que carrega consigo uma bagagem pesada de ter perdido a sua mãe em um acidente de carro quando ainda era uma criança. Esse tipo de trabalho é o sonho de alguém que está querendo se deslocar, não criar raízes, seja em pessoas ou em lugares, para se manter sozinha, em seu próprio mundo interno, como a protagonista. Mesmo estando no alto, Cassandre tem ambições baixas e não se empolga sequer com uma possível promoção no trabalho, pois ela iria ter que exercer mais responsabilidades. Tudo o que ela não quer.

Se na primeira metade conhecemos o dia-a-dia da protagonista, o que serve também para desglamourizar a carreira de comissária de bordo, na segunda metade somos apresentados a família nuclear de Cassandre, conforme a protagonista volta para a casa depois de uma suspensão do trabalho.

Existe um clima melancólico parecido com aquele sentido em “Aftersun”, entre as interações de Cassandre com sua irmã e, principalmente, seu pai. A melancolia percorre todo o filme, assim como percorre dentro de alguém que só quer se afastar do mundo.

“Bem-vindos a bordo”, Emmanuel Marre e Julie Lecoustre:

Avaliação: 4 de 5.

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