Próximo a completar dois anos desde o falecimento de Fernanda Young, me propus a conhecer um pouco da literatura deixada pela autora. Apesar do título forte que de fato chama a atenção, o que me fez escolher por começar pelo “O Pau” foi o que estava escrito no seu verso, trazendo um resumo sobre o que se trata a obra.
Acho que para mim nada atualmente é tão instigante quanto ler um livro sobre abandonos, rompimentos e traições. Isso porque essas temáticas nos levam a conhecer o quanto as pessoas ainda sofrem pelas outras, algo não muito explícito hoje, onde o término de uma relação logo é preenchido pelo início de outra.
Em “O Pau”, é um pouco diferente. Na história, Adriana é uma bem sucedida designer de joias que descobre que está sendo traída pelo seu namorado, 14 anos mais jovem. Aos 38 anos, Adriana possui uma bagagem pesada de relacionamentos anteriores que fracassaram, e ao descobrir a infidelidade do namorado ela não se mostra surpresa, e sim nutre seu ódio por homens que a faz traçar um plano de vingança: fazer com que o companheiro infiel nunca mais tenha uma ereção, mas não pelos métodos práticos, e sim com uma técnica que envolve a psicologia e a psicanálise.
Toda a raiva de Adriana se concentra no pênis, o órgão que julga ser o mais importante para os homens. Ela segue em várias páginas utilizando sua retórica para derrubar a teoria freudiana de inveja do pênis. A protagonista cita como o pênis comanda todo o corpo do homem, fazendo com que ele seja escravo dos seus próprios desejos.
Isso tem impacto na autoestima de Adriana que, embora seja uma bela mulher, não tem mais o corpo das meninas de 20 anos. Mesmo que ela possua muitas qualidades como ser uma pessoa culta, engraçada e focada em seus objetivos, do que isso adianta em um relacionamento se o homem vai logo a trair com outra mulher pela qual o seu pênis ereto apontar? O pau, segundo Adriana, aponta para o lado oposto da felicidade.
O livro possui uma história não linear, e em paralelo à execução do seu plano de vingança, descobrimos que Adriana não gostava tanto de seu namorado. Embora o achasse um rapaz bonito, não conseguia esconder a decepção de estar com um ator fracassado e inculto. Por várias vezes, durante essas histórias em paralelo, vemos Adriana querendo terminar o namoro por não aguentar estar ao lado de uma pessoa tão pobre intelectualmente. Nesse ponto, a vingança de Adriana passa a ser simbólica, contra todos os homens que ela conheceu ou que virá a conhecer.
Do início ao fim, Fernanda Young apresenta uma obra com humor ácido e com uma massiva erudição, deixando mais claro que é preciso ser inteligente para fazer rir. “O Pau” não decepciona, e confirma ainda mais toda a genialidade de uma artista que atingiu a excelência em tudo que se propôs.

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