O declínio de Simon Axler, um renomado ator que subitamente perde a capacidade de atuar, serve como ponto de partida para uma jornada intrincada pelo labirinto psicológico em “A Humilhação”. Sexagenário, solitário e agora incapaz de exercer sua profissão, Axler enfrenta não apenas a morte simbólica de sua carreira, mas também uma erosão de sua própria identidade.

A incapacidade de Axler em superar um evento traumático de humilhação no palco, local no qual sempre dominou, destaca a vulnerabilidade da psique ao mesmo tempo que a busca por sentido e identidade se torna uma batalha épica contra as sombras da finitude da vida.

O protagonista nos faz questionar de onde vem o impulso para representar, se algo metafísico ou libidinal. Naquela altura da vida, para Axler estar no palco e ser aplaudido não era apenas exercer um trabalho, mas sim liberar a sua libido.

A vida de Axler perde o sentido depois de constatar que não consegue mais representar, até que conhece Pegeen, uma mulher lésbica trinta anos mais nova que está repensando sua orientação sexual. Pegeen emerge como a encarnação do desejo e da fragilidade, personificando os conflitos edípicos e a complexidade das relações interpessoais. Ela se torna o centro das atenções de Axler, que assume posição de diretor do espetáculo da mudança de orientação sexual da sua heroína. Philip Roth parece utilizar esses personagens como arquétipos de forças psicológicas em colisão, mergulhando no inconsciente para expor as dinâmicas complexas que moldam o comportamento humano.

A estrutura narrativa do livro espelha a desconstrução gradual do ego, enquanto os eventos se desdobram como fragmentos de sonhos perturbadores, hora de forma chocante, hora de forma previsível, mas extremamente objetivo e visceral, principalmente nos momentos mais tristes, como o abandono e a volta do talento para se despedir da vida.

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“A Humilhação”, Philip Roth

Companhia de Bolso