“Barbie” parece uma peça de teatro do ensino médio

Filme sensação de Greta Gerwig tem tom didático e decisões óbvias que no final acaba tendo como resultado uma obra mediana


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Um dos grandes problemas do cinema contemporâneo é quando o diretor quer passar para o espectador o que ele pensa sobre um assunto e utiliza dos personagens apenas para chegar a esse objetivo. O filme passa a ser muito didático, com tom professoral, normalmente com um maniqueísmo bem característico que não dá espaço para a ambivalência. O resultado é o surgimento de muitas obras que poderiam ter sido apenas um ensaio escrito pelo diretor, já que ele queria debater aquele tema. É o caso de “Barbie”, filme sensação da diretora Greta Gerwig.

O objetivo de Greta com “Barbie” é falar de feminismo com o público e para isso contou com um orçamento astronômico. De fato o filme possui cenários, fotografia, atuações de alto nível, mas faltou roteiro e só a escolha do tema para a obra não é o bastante.

Na história, Barbie tem seu dia a dia perfeito na Barbieland interrompido por pensamentos de morte e surgimento de celulites e estrias em seu corpo. Indo em busca do que poderia estar causando essas mudanças, descobre que a criança que está brincando com ela no mundo real está passando por um momento difícil, e por isso decide ir até lá ajudá-la e depois voltar para a Barbieland.

Acompanhada de Ken, Barbie consegue muito facilmente encontrar a menina que supostamente brinca com ela no mundo real e decidem, juntas, voltar a Barbieland, também com a mãe dela. Ao chegarem de volta naquele mundo, descobrem que Ken já tinha se antecipado e, tendo conhecido o poder e protagonismo do homem no mundo real, transformou Barbieland em Kengdom, com a ajuda dos outros Ken’s e enfeitiçou as outras Barbie’s, que aceitaram o patriarcado.

As decisões do filme são muito óbvias e as saídas, muito fáceis. Não sabemos como as outras Barbie’s foram enfeitiçadas de forma tão rápida pelos Ken’s e sem nenhuma resistência, e a forma com que Barbie e a menina e sua mãe contornam a situação é igualmente patética: individualmente, conversam com cada Barbie para conscientizá-las e, por meio de uma média de três frases, conseguem acabar com o feitiço.

Quando os Ken’s dão por si, as Barbie’s já tinham destruído o patriarcado e reestabelecido a Barbieland. E nisso, os Ken’s apenas aceitam que foram derrotados, não existindo nenhum embate entre os dois grupos, o que não faz nenhum sentido.

“Barbie” dá a sensação de que Greta Gerwig teve que espremer muita coisa para caber nas duas horas de duração do filme. A história é acelerada e não sobra tempo para trabalhar as situações e suas consequências com a verossimilhança necessária. Chegamos ao final do filme sem sequer termos conhecido quem é a protagonista Barbie, qual a sua personalidade, seus hobbies, pensamentos e aquilo que a diferencia entre tantas Barbies.

É um filme mediano, muito pouco quando levamos em consideração o investimento que ele recebeu.


“Barbie”, Greta Gerwig

Em cartaz nos cinemas

Avaliação: 2 de 5.

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Comments (

1

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  1. Melhores e piores de 2023: Enquanto “Tár” se torna um novo clássico contemporâneo, “Barbie” constrói uma hermenêutica para o povão – Café Comité

    […] Um dos grandes problemas do cinema contemporâneo é quando o diretor quer passar para o espectador o que ele pensa sobre um assunto e utiliza dos personagens apenas para chegar a esse objetivo. O filme passa a ser muito didático, com tom professoral, normalmente com um maniqueísmo bem característico que não dá espaço para a ambivalência. O resultado é o surgimento de muitas obras que poderiam ter sido apenas um ensaio escrito pelo diretor, já que ele queria debater aquele tema. É o caso de “Barbie”, filme sensação da diretora Greta Gerwig. O objetivo de Greta com “Barbie” é falar de feminismo com o público e para isso contou com um orçamento astronômico. De fato o filme possui cenários, fotografia, atuações de alto nível, mas faltou roteiro e só a escolha do tema para a obra não é o bastante. CONTINUAR LENDO […]

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