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“Rainha de Copas” acompanha uma mulher até a sua tragédia

Filme de May el-Toukhy se recusa a retratar a mulher como uma figura intocável e imaculada, se posicionando como um anti-Barbie


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“Rainha de Copas” centraliza-se em Anne, uma advogada especializada em direitos das crianças e adolescentes. Acostumada a lidar com situações desafiadoras no trabalho, mas mantendo uma vida pessoas estável em um casamento que gerou duas filhas, Anne vê sua estabilidade ser abalada quando seu enteado, Gustav, filho do primeiro casamento de seu marido Peter, se muda para sua casa. O que deveria ser uma relação paternal convencional se transforma em um enredo tenso, colocando Anne em uma encruzilhada moral e ameaçando desestabilizar não apenas sua vida pessoal, mas também sua carreira profissional.

Anne é uma mulher bonita, mas já não tão jovem. Quando ela escuda uma moça chegando ao orgasmo no quarto de Gustav, Anne fica reflexiva e para diante do espelho, buscando sensualidade no próprio corpo. O que acontece depois é exatamente o que o espectador espera.

Diferentemente da maioria dos filmes contemporâneos, “Rainha de Copas” recusa-se a retratar a mulher como uma figura intocável e imaculada. A diretora May el-Toukhy desafia as expectativas ao apresentar Anne como uma personagem que erra, que se debate com dilemas morais e que não se encaixa nos padrões tradicionais de representação feminina, se tornando quase uma anti-Barbie, filme de Greta Gerwig.


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A diretora dinamarquesa explora a dualidade da natureza humana, especialmente no contexto das relações interpessoais: Anne, que trabalha defendendo crianças em casos de abuso, agora se vê como abusadora, ao mesmo tempo que isso não muda seu ótimo desempenho como mãe das duas filhas. Essa ambivalência confunde o espectador, que muitas vezes se questiona se o que existe entre Anne e Gustav é realmente um abuso sexual.

O filme lança mão de uma narrativa envolvente e performances magníficas para provocar reflexões sobre a complexidade dos relacionamentos, a vulnerabilidade humana e a inexorável realidade de que todos têm seus próprios desafios morais.

“Rainha de Copas” transcende os limites convencionais e apresenta uma narrativa que não tem medo de explorar a imperfeição, construindo uma obra que questiona as noções preconcebidas sobre feminilidade e moralidade.


“Rainha de Copas”, May el-Toukhy

Disponível no MUBI

Avaliação: 5 de 5.

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