“Odete” toca na fronteira da vida e da morte

Filme é uma das obras mais interessantes do diretor português João Pedro Rodrigues


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A história de Odete é desencadeada pela morte de Pedro, o namorado de Rui e filho da vizinha de Odete. Enquanto Rui afunda-se na prostração e no esquecimento, Odete decide enfrentar a morte de Pedro, alguém que ela pouco conhece, de uma maneira peculiar. Ela se agarra a Pedro, não apenas como uma lembrança, mas como uma fonte de significado e emoção em sua vida.

Junto ao luto, o desejo incessante de Odete por um filho, que ela afirma ser de Pedro, um homem gay, representa sua busca por algo maior e mais importante do que a mediocridade de sua vida cotidiana de assistente de supermercado.

O filme explora o conceito de fetichismo, à medida que Odete se torna obcecada por Pedro, não apenas como uma figura que ela deseja, mas também como alguém que ela deseja ser. Ela começa a imitar Pedro, usando suas roupas, cortando o cabelo como o dele e até mesmo “fazendo amor” com seu corpo inerte. Essa obsessão revela a necessidade de Odete de sentir-se importante para os outros, de experimentar emoções fortes, mesmo que isso signifique sofrimento.

Rui, por outro lado, busca o esquecimento e o apagamento de Pedro, temendo que a memória o atormente. Aqui, vemos um contraste entre a cinefilia, que preserva a memória e tenta ressuscitar os mortos, e a necessidade de esquecer e seguir em frente com a vida.

O filme brinca com a ideia de representação e identidade, à medida que Odete interpreta o papel de Pedro para Rui. Ela tenta fazer Rui acreditar que Pedro está de volta, recriando o primeiro encontro deles e até mesmo exigindo que Rui a chame de Pedro durante um ato sexual. Isso ilustra como a representação e a interpretação desempenham um papel fundamental na vida, moldando nossa identidade e nossa relação com os outros.

“Odete” é um filme filosófico que questiona a natureza da identidade, o poder da memória e a busca constante pela ressurreição daqueles que já partiram. João Pedro Rodrigues usa o filme como uma metáfora para a maneira como a humanidade lida com o passado e a morte, e nos lembra que, no final, tudo se transforma, mas a busca por significado e identidade continua.


“Odete”, João Pedro Rodrigues

Disponível no MUBI

Avaliação: 4 de 5.

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