Teria o sexo se transformado em um direito?

Em “A Imortalidade”, Milan Kundera, escritor tcheco exilado da antiga Tchecoslováquia comunista na França, se mostra impressionado ao perceber como a cultura ocidental é muito mais pautada em direitos do que em deveres. Para Kundera, o ocidental pensa que se ele quer uma casa, ele tem direito a uma casa; se ele quer comida, ele tem direito a comida; se ele quer amor, ele tem direito ao amor; e, agora, se ele quer sexo, alguém deve dar sexo a ele.

Gerou-se uma discussão na Internet, de início pequena mas que depois foi tomando uma proporção enorme, quando um homem gay fez uma publicação dizendo que não se relacionaria com um homem trans pelo motivo simples de que ele gosta de pau, coisa que o homem trans não tem para oferecer.

Rapidamente o autor do post em questão foi alvejado e taxado como transfóbico, sob as alegações de que decidir não se relacionar com alguém por causa da genitália é um preconceito contra pessoas que possuem esses corpos tidos como “inadequados” pela sociedade.

É um assunto muito espinhoso, mas mostra como hoje os indivíduos querem racionalizar tudo, inclusive o desejo: a genitália faz parte do desejo sexual e para a maioria das pessoas é algo importante, só que esses virtuosos acham que as pessoas devem se desconstruir, evoluir, fazer terapia, enfim, o que for necessário para gostarem de tudo na hora do sexo.

Consigo imaginar que seja bem chato ser um homem trans ser preterido por não ter um pênis. Mas, infelizmente, ninguém é obrigado a gostar e muito menos obrigado a ficar com um homem trans. Com certeza existem pessoas que terão desejo em homens trans, e outras não terão. E não tem nenhum problema. Não é como se as pessoas devessem sexo umas para as outras.

Em outro momento os virtuosos se mostram mais flexíveis, dizendo que tudo bem você não querer ficar com uma pessoa trans porque a genitália é importante para você, mas que você não deve dizer isso. O motivo? isso iria magoar as pessoas trans e, aparentemente, elas não podem ser magoadas. Ou seja, segundo esses virtuosos, essas pessoas tem o direito ao sexo e ainda devem ser protegidas em plástico bolha.

E isso tudo se aproxima também do discurso homofóbico que tira a liberdade de homens gays. Quem nunca ouviu de um homofóbico “tudo bem ser gay, mas pra quê ficar falando?”. Os opostos estão mais próximos do que se imagina.