“Uma fuga perfeita é sem volta” é uma densa, extensa e profunda viagem sobre a solidão

A passos de cágado, Márcia Tiburi nos revela um personagem intrigante em um romance de 600 páginas


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A passos de cágado, Márcia Tiburi nos revela um personagem intrigante em um romance de 600 páginas

Não é tarefa fácil ler “Uma fuga perfeita é sem volta”, quinto romance da filósofa, artista plástica, professora e escritora Márcia Tiburi. O primeiro empecilho está na sua extensão, onde as 600 páginas, que já formam um volume considerável, parecem ser ainda mais longas a medida que o leitor vai adentrando a história. O segundo empecilho está na falta de movimento do enredo, que faz com que o livro seja um monólogo que hora nos prende a atenção, e hora nos dá vontade de abandonar.

Klaus Wolf é um brasileiro que vive em Berlim há algumas décadas. Desde que se mudou para a capital germânica nunca voltou para visitar sua família no Brasil, mais precisamente na região do Campeche em Santa Catarina. O único contato que mantêm com seu pai e sua irmã é por ligações mais ou menos anuais. Certo dia em que liga para sua irmã Agnes, no meio de tantas banalidades que ela diz, acaba revelando que o pai dos dois morreu há dois meses, e Klaus sequer foi avisado.

A partir desse ocorrido Klaus entra em uma análise profunda sobre o que foi sua vida até agora. Seu sentimento de estrangeiro em sua própria cidade natal, a mudança para um país muito diferente da sua terra de origem, seu emprego no guarda-volumes de um museu, sua relação com seus poucos amigos, sua deficiência, sua sexualidade, sua gagueira e por fim, mas a mais importe, sua solidão.

O livro, que é dividido em pequenos diários, parece ter sido todo escrito/falado por Klaus no mesmo dia da terrível ligação que teve com sua irmã Agnes. Em alguns momentos Márcia Tiburi nos dá sensações sublimes, como quando Klaus imagina como foi o velório de seu pai, se existiam flores, quais conhecidos foram velar o corpo, quem carregou o seu caixão. Em outros momentos, a repetição de falar sobre o quanto sua irmã é uma pessoa ruim, cansa.

A passos de cágado Klaus vai se revelando para o leitor e expõe não só a ele, mas também seu pai, sua irmã, seus amigos e sua companheira. Surge uma curiosidade, mas o destrinchar da história não acompanha a vontade do leitor de saber quem é aquele homem tão desgraçado por todos. É um jogo de espera.

O que parece é que Klaus teve o azar de nascer com muitas características que fizeram com que ele se sentisse deslocado onde quer que fosse. Existe um exagero muito grande na história que faz com que pareça muito longe da realidade. Pense: o protagonista mora na Alemanha há pelo menos 40 anos, ou seja, ele é um idoso; ele é uma pessoa que gagueja e fala bastante como é querer se expressar, mas não conseguir; Klaus também vai nos revelando uma deficiência física que prejudica sua sexualidade; entre outras. Parece que tudo de ruim aconteceu com esse homem.

Mesmo que sejamos presenteados com vários pensamentos interessantes já que o protagonista é uma pessoa culta e que frequenta aulas de filosofia, a sua postura schopenhauriana, em seu extremo ressentimento, traz incômodo em um livro que poderia, sem dúvidas, ter metade das suas páginas.

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Comments (

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  1. Anônimo

    siiii fudeuuuuuuu

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